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quarta-feira, 4 de junho de 2008

“Pequeno Dicionário de Percevejos”, de Nelson de Oliveira


Com linguagem rápida, feroz, leve e cheia de lirismo a obra “Pequeno Dicionário de Percevejos” reúne os melhores contos de Nelson de Oliveira, escritor paulista que iniciou neste gênero no ano de 1997. Com personagens que ora parecem reais, ora parecem saídos de sonhos, o livro apresenta narrativas que não obedecem necessariamente uma linha cronológica. Uma avalanche de frases e sentidos toma o leitor a cada parágrafo, a cada texto. As palavras são, ainda, sensoriais, tomam forma na cabeça de quem se dedica à leitura, assim como toda boa literatura deve ser.

Serviço: “Pequeno Dicionário de Percevejos”, de Nelson de Oliveira. Editora Lamparina. 2004. Rio de Janeiro.




Nelson de Oliveira nasceu em 1966, em Guaíra, SP. Escritor e doutorando em Letras pela USP, publicou mais de vinte livros para adultos e crianças. Colabora regularmente com o jornal Rascunho (PR) e com o caderno Idéias & Livros, do Jornal do Brasil (RJ). Dos prêmios que recebeu destacam-se o Casa de las Américas (1995), o da Fundação Cultural da Bahia (1996) e duas vezes o da APCA (2001 e 2003).




A seguir, um dos contos de “Pequeno Dicionário de Percevejos”.


Uma Velhota


Era uma velhota já bastante acabada quando abri a porta, boa tarde, ela me disse, boa tarde, respondi-lhe, estou vendendo doces e bolos em fatias, foram feitos agorinha, agorinha, não quer um, seu rosto era redondo e vermelho, igual ao pedaço de bolo que ela trazia dentro de um cesto grande, velho, velho, não havia nenhum sinal de doces ali, não, muito obrigado, agradeci, procurando fechar com delicadeza a porta antes que ela tentasse entrar à força, ela não me disse mais nada, fez uma cara de triste, deu meia volta e por um momento, pensei que fosse embora, mas não foi, encostou seu nariz no meu, não sei porque você sempre me diz isso, olhe para você, não come bem, quase não dorme, está emagrecendo a olhos vistos, está com um aspecto doentio, pensei em expulsa-la com um objeto qualquer, uma vassoura, um guarda-chuva, você mora sozinho, quando ela me perguntou se eu morava sozinho, logo percebi que aquilo era mais um dos seus truques, seu pé estava muito bem colocado entre o batente e a porta, mamãe, eu gritei, já bastante irritado, pare com essa encenação ridícula, ela sorriu, naquele momento não havia como fechar a porta, deixei que entrasse, fomos logo para a minha cama, acordamos tarde e as últimas fatias e bolo deixamos para comer no café da manhã.

Nelson de Oliveira


Postado por Véronique

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